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Crédito: José Cruz/Agência Brasil |
O presidente Lula (PT) afirmou nesta quinta-feira (27) que demitiu Nísia Trindade do Ministério da Saúde por querer "mais agressividade" e disse que precisará fazer outras mudanças em seu governo.
"Nísia era uma companheira da mais alta qualidade, minha amiga pessoal, mas eu estou precisando de um pouco mais de agressividade, mais agilidade, mais rapidez, por isso estou fazendo algumas trocas", disse em entrevista ao programa Balanço Geral Litoral (SP), da Record.
O presidente também confirmou a intenção de anunciar as próximas mudanças na Esplanada após o Carnaval e disse que só comunicará os nomes dos novos indicados após conversar com seus escolhidos.
"Não quero que a pessoa saiba que vai ser ministro pela Record vou ter que fazer reforma, mexer no governo, mas com muito cuidado, como técnico de futebol".
Com a troca de Nísia Trindade por Alexandre Padilha, na Saúde, Lula iniciou as movimentações de sua reforma ministerial.
A demissão de Nísia foi oficializada na noite de terça (25), dias após o presidente ter dito a aliados que substituiria a socióloga pelo então ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, conforme antecipou a Folha de S.Paulo.
Horas antes, Nísia anunciou no Palácio do Planalto, ao lado de Lula, um acordo para a produção de 60 milhões de doses anuais da vacina contra a dengue pelo Instituto Butantan. Na ocasião, nenhum dos dois falou sobre sua saída.
O comunicado oficial do Planalto informando sua saída só foi feito à noite, depois de uma reunião breve entre Lula e a então ministra.
No início de fevereiro, o presidente afirmou não ter pressa em fazer nenhuma mudança em seu governo e elogiou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, um dos nomes que têm sido lembrado na bolsa de apostas para deixar o governo.
Outros nomes estão em alerta dentro da gestão com possíveis chances de trocas em suas respectivas pastas.
No desenho à mesa de Lula, também está a proposta de acomodação dos ex-presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Com as passagem de bastão dos dois chefes do Congresso para Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), há expectativa de que os dois ex presidentes ocupem algum ministério.
Lula, no entanto, já afirmou que seu objetivo para Pacheco é de que o ex-presidente do Senado assuma o governo de Minas Gerais. Também no início do mês, o presidente deu início a uma nova rodada de conversas políticas.
COMENTÁRIO
A maneira como o governo e o próprio presidente Lula conduziram a saída de Nísia Trindade deixou evidente uma contradição entre discurso e prática. Em vez de reconhecer e respeitar a trajetória de uma gestora técnica altamente qualificada, a decisão foi precedida por um longo processo de esvaziamento e desqualificação pública, repleto de críticas veladas e boatos de demissão.
A “fritura” de Nísia não foi apenas um episódio comum da política, nem um simples gesto de desrespeito à sua trajetória. Foi um desgaste calculado, que expôs a ministra a sucessivas cobranças públicas e constrangimentos, enfraquecendo sua autoridade dentro do próprio governo. O que se viu, na prática, foi um processo contraditório com a agenda que o governo Lula afirma defender, especialmente no que diz respeito à valorização de profissionais técnicos e à defesa do SUS.
A justificativa de Lula para a troca – a necessidade de “mais agressividade” na gestão – chama atenção. Se há necessidade de mudanças estratégicas, por que submeter uma ministra respeitada internacionalmente a um processo tão desgastante? E por que, para substituí-la, escolher um político de perfil partidário, em vez de um técnico com experiência semelhante?
Esse episódio também lembra a gestão da saúde no governo Bolsonaro, quando ministros foram substituídos ao sabor da conveniência política, muitas vezes em detrimento da competência técnica. Na pandemia, vimos a troca sucessiva de nomes, culminando na nomeação de um general, o Pazzuelo sem qualquer experiência na área. Aliás foram quatro ministros da saúde, Luiz Henrique Mandeta, o Nelson Theick, depois Pazzuelo e por fim Marcelo Keiroga.
Agora, com Lula, a lógica se repete: sai uma ministra reconhecida por sua competência e comprometimento com o SUS, entra um aliado político. No fim das contas, a retórica pode mudar, mas a prática política continua colocando os interesses partidários acima da capacidade técnica.