Dados do Censo 2022 mostram a forte presença indígena em todo o estado da Bahia - Alfredo Portugal
Esta sexta-feira, dia 19 de abril, é o Dia dos Povos Indígenas no Brasil. A data é marcada pela luta dos povos tradicionais por reconhecimento de direitos e respeito às tradições milenares.
A data era chamada de "dia do índio". Porém, a Lei 14.402, de julho de 2022, mudou a nomenclatura. Defensores das causas indígenas argumentam que a mudança foi de um termo genérico para uma expressão que considera a diversidade dos povos indígenas que vivem no Brasil.
Para Márcio Kókoj Werá Popyguá, líder espiritual da Terra Indígena Mangueirinha, no Paraná, a mudança reflete numa nova visão sobre os indígenas e retira o tom pejorativo da palavra "índio", atribuída aos povos originários por quem, segundo ele, invadiu terras latino-americanas desde o século XV.
"Esse termo 'índio' para nós não era bom. Há muitos anos a gente vinha tentando mudar isso e, agora sim, temos povos indígenas para representar as etnias, o respeito às etnias, à questão da originalidade do povo, ou seja, somos povos originários do Brasil", disse Márcio.
Para a cacique da Terra Indígena ilha da Cotinga, no Paraná, Juliana Kerexu Rete Marian, o novo nome traz um debate importante sobre a forma como os indígenas são vistos na sociedade e reforça a ancestralidade, uma vez que indígena tem significados etimológicos como "nascido ali" e "originário".
“É um grande significado porque traz uma outra forma de entendimento para o não indígena, de reconhecer também, entre aspas, 'qual é o lugar do indígena hoje?'. [...] Tudo isso traz também o valor e as raízes dessa ancestralidade, exatamente tudo que nessa visão do brasileiro não tem hoje, de um diálogo e uma educação”, afirmou Juliana.
O Brasil tem 1,7 milhão de pessoas indígenas, o que representa 0,83% da população total do país. É o que mostram os dados mais recentes do Censo Demográfico 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2023.
Bahia tem segunda maior população indígena do Brasil
Cacique Agnaldo Pataxó Hã-hã-hãe, coordenador geral do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), explica que os povos indígenas da Bahia recebem esses dados sem surpresa, mas com muita alegria. “Não foi surpresa pra gente, mas é ótimo, porque temos um dado oficial que demonstra o que nós sempre falamos. Isso vai facilitar e vai municiar a argumentação dos movimentos indígenas da Bahia”, afirma.
Para Agnaldo, a violência contra os povos indígenas ao longo da história da Bahia e do Brasil fez com que muitas pessoas escondessem sua identidade. “A Bahia sempre foi um estado predominantemente indígena e que, devido à invasão, à brutalidade, muitos tiveram de negar sua identidade, e ainda continuam até hoje negando a sua identidade”, afirma.
Nas regiões oeste e sudoeste do estado, onde há graves conflitos com o agronegócio e grandes empreendimentos, como usinas de energia eólica, por exemplo, o Mupoiba identifica grupos de indígenas que preferem manter a identidade em sigilo. “Muitos dos nossos, em reuniões com a gente do movimento, assumem [a identidade]. Mas, para fora, não declaram com medo da represália, com medo da violência”, explica.