Editorial: Era Temer perto do fim

Um resumo do processo do golpe e os desdobramentos da delação premiada que revirou a política nacional

 O plantão da Rede Globo parou o Brasil ontem à noite para anunciar a super-delação premiada do empresário Joesley Batista da JBS que tocou “fogo” na república. O executivo dono da Friboi, monitorado por câmeras, gravadores, malas com chips e dinheiro com cédulas controladas pela Polícia Federal, apresentou ao país um esquema de corrupção envolvendo o presidente da república Michel Temer, o ex-deputado Eduardo Cunha e o senador mineiro Aécio Neves, para obstruir as investigações da Operação Lava-Jato.

O presidente Temer foi pego em gravação que articula o pagamento de propina para comprar o silêncio de Eduardo Cunha, condenado a mais de 15 anos de prisão e o seu então assessor, deputado Rodrigo Rocha Loures, foi flagrado recebendo 500 mil reais, valor que seria pago semanalmente, por vinte anos a Eduardo Cunha.

Cunha é o grande responsável pelo impeachment de Dilma Rousseff, que conduziu Temer à presidência da república. Dilma sofreu um impeachment sem crime de responsabilidade, ou qualquer denúncia de corrupção. O fato ocorreu em plena operação lava-Jato, que investiga o envolvimento de políticos em esquema de corrupção na Petrobras. Durante o governo de Dilma as investigações não sofreram nenhuma intervenção do governo e políticos de alto escalão passaram a ser investigados e condenados, o que passou a aterrorizar alguns políticos envolvidos no esquema de desvio de dinheiro da estatal por meio de caixa dois.

Diante disso, políticos do PMDB começaram a articulação para retirar a presidenta Dilma do poder e no auge da investigação da Lava-Jato uma ligação do senador Romero Jucá foi grampeada e o conteúdo da conversa dizia, “É necessário tirar a Dilma para estancar a sangria”. Estancar a sangria leia-se barrar as investigações, parar com a Lava Jato e evitar a ida dos caciques do PMDB e seus aliados para a cadeia.  E assim foi feito. Deputados e senadores liderados pelo PMDB e PSDB, com discurso contra a corrupção e a roubalheira efetivaram a saída de Dilma do Palácio da Alvorada e concretizaram o golpe com a tomada de poder do vice-presidente.

PMDB e PSDB são os dois partidos citados na delação noticiada pelo jornal O Globo. O senador Aécio Neves, citado em diversas delações da Lava-Jato, e denunciado por participação em esquema de corrupção no Governo de Minas Gerais, recebeu uma mala de dinheiro contendo dois milhões de reais, justificando ques seria utilizado para pagamento de sua defesa, porém as investigações apontam que o dinheiro não teve esta finalidade.

Na gravação que dura mais de 30 minutos, Neves e Joesley Batista, conversam sobre projeto para anistia de caixa dois e cita manobras políticas que devem ser feitas para sua aprovação. Sobre as articulações de Aécio Neves, Romero Jucá quando do grampo do seu telefone, declarou: “Quem não conhece os esquemas de Aécio?”.

Ocorre que Aécio Neves derrotado nas eleições presidenciais de 2014 se tornou para alguns seguimentos da sociedade, em símbolo da honestidade e moralidade contra a corrupção. Resultado: Aécio teve seus imóveis revirados pela PF e MPF, foi afastado do mandato de senador, sua irmã e assessora, e o primo, foram presos preventivamente, mas ele, o autor, dono do mandato está solto, seu pedido de prisão foi negado pelo Ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF.

E para piorar a situação do senador afastado de Minas, a gravação telefônica o flagra fazendo ameaça de morte, para a pessoa responsável por entregar o dinheiro: “Tem que ser um que a gente mata antes de fazer delação”. (Trecho da fala de Aécio Neves em gravação feita pelo empresário Joesley Batista).

A pergunta que fica agora é quais os encaminhamentos que serão dados para o Brasil voltar a seguir seu rumo, recuperar a economia e a confiança do povo brasileiro. Deputados da oposição já protocolaram o pedido de impeachment do Temer e seus aliados já começaram a abandonar o barco e pedem sua saída do governo. O caminho apontado por eles é o da renúncia, para que não sejam obrigados a votar no seu impeachment às vésperas de uma eleição ano que vem. Em pronunciamento quinta-feira (18) em tom revanchista e ameaçador, Temer disparou em rede nacional, “Não renunciarei”. De modo que o presidente continua com foro privilegiado. Mas independente da expectativa frustrada do anúncio da renúncia, sua saída é dada como certa. E a próxima preocupação será quem vai assumir o governo.

Se Michel Temer de fato perder o cargo, o seu aliado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, assume a Presidência da República temporariamente e em seguida pode haver eleições indiretas, e é o congresso quem vai escolher quem governará o país.

Esse não parece ser o melhor desfecho para a sucessão presencial no Brasil. Você concorda que os políticos de Brasília decidam quem vai ser o próximo presidente? O jeito é a população tomar às ruas, reivindicar eleições diretas, colocar um ponto final neste golpe que penaliza o país e restaurar o Estado Democrático de Direito.

Uma coisa é certa, não há mais a mínima condição do governo que aí está continuar. Temer precisa deixar o governo e responder por seus crimes, sua permanência é insustentável, o Brasil precisa de uma resposta imediata para esta delação que comprovadamente envolve o ocupante do mais importante cargo político do país.

O outro caminho possível para a derrocada final do governo é a cassação da chapa Dilma/Temer. O julgamento da ação impetrada pelo PSDB derrotado nas eleições presidenciais em 2014 será retomado e a decisão do TSE deve ser tomada até o dia 8 de junho.
Portanto, resta a Temer e seus apaniguados deixar o governo, para isso são três alternativas:  via renúncia, impeachment ou cassação. 


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